Esta é uma reportagem com relatos interessantes de quem viveu directamente, na frente de ataque, a Guerra Colonial em Angola. O texto é do jornalista João Vaz e retirado do site do Correio da Manhã, em 5 de Junho de 2007.
"Os combates eram duros e muito feios", recorda Libânio Pontes Miquelina, alferes na 105 do Batalhão de Caçadores 96, o primeiro a entrar em Nambuangongo, no Norte de Angola, ao fim da tarde de 9 de Agosto de 1961. Com o êxito da ‘Operação Viriato’, a primeira de grande dimensão nas campanhas de África, acabou-se com o « santuário da UPA », onde os independentistas se consideravam inexpugnáveis, apesar de alguns aviões da Força Aérea Portuguesa irem de vez enquanto lá despejar uma bombas.
A partir de um morro rodeado de matas diabólicas, com as picadas que lá conduziam obstruídas por árvores e muitas valas, a UPA lançava ataques a povoações próximas e mantinha sob ameaça cidades mais distantes como Carmona, Ambriz e mesmo Luanda. Para o comando militar português destruir a base tornou-se decisivo e não teve dúvidas em montar uma operação de envergadura.
Por três itinerários diferentes, outras tantas forças militares receberam ordens para chegar a Nambuangongo. O Batalhão de Caçadores 114 comandado pelo tenente-coronel Henrique de Oliveira Rodrigues foi o único que não conseguiu lá chegar. E o 96, do tenente-coronel Armando Maçanita o primeiro a atingir o objectivo, tendo à frente a Companhia 103 dos alferes Santana Pereira, já falecido, e Casimiro, que veio a morrer em campanha.
Libânio Miquelina, que se estreara em fogo a sério no 10 de Junho de 1961 com o ataque à Pedra Verde, era um dos alferes da Companhia 105 que se previa ser a primeira a chegar Nambuangongo.
NAMBUANGONGO
Ocupação
«A ENTRADA da coluna em Nambuangongo fez-se às 17 e 45 de 9.8.1961, com o pelotão de caçadores do alferes José da Silva de Santana Pereira, no escalão-testa da vanguarda ....
Foi assim materializada a resolução firme e decidida em que se achavam todos os oficiais, sargentos e praças do Batalhão de Caçadores 96, conduzidos pelo seu comandante, tenente-coronel Armando da Silva Maçanita, de ocupar Nambuangongo antes de 10.8.1961...
A povoação de Nambuangongo achava-se deserta, com as habitações destruídas e incendiadas, embora algumas incompletamente, entre estas a igreja da missão católica, que estava destelhada.
Ao cair da tarde, cerca das 18 horas, depois de rapidamente montado o dispositivo de vigilância, perante uma formatura em que participavam formações dos escalões presentes, a Bandeira Nacional foi erguida no topo da torre da igreja, pelo segundo-sargento Lúcio Agostinho dos Santos, da Secção de Operações e Informações, coadjuvado pelo primeiro-cabo n.º 894/60, Carlos Alberto da Silva Gomes, recebendo as honras militares do estilo, ao som do toque de continência...
E assim, perante a viva emoção de todos os presentes, a Bandeira Nacional voltou a tremular sobre a colina de Nambuangongo ...
Para que tal fosse possível, os caçadores do 96 tiveram de vencer inúmeras dificuldades, remover numerosos obstáculos, penosamente abrir caminho por matas cerradas donde o inimigo emboscado flagelava as colunas, repelir furiosos ataques, explorar e bater matas e sanzalas, perseguir os bandoleiros e procurá-los nos seus refúgios. Todas essas acções, levadas a efeito sob o comando do tenente-coronel Armando da Silva Maçanita, beneficiando da valiosa cooperação da Força Aérea Portuguesa e de um pelotão de sapadores de engenharia, foram realizadas à custa de muitos sacrifícios e esforços generosamente oferecidos à Pátria, de que são testemunhos os 21 feridos e os sete camaradas mortos, cujas campas ficaram a balizar o itinerário do Batalhão de Caçadores 96 ....
Do sacrifício exigido pela tomada de Nambuangongo, participaram também três feridos e dois mortos, pertencentes à CCE 78 e ao pelotão de sapadores da Companhia de Sapadores123, além de um guia civil gravemente ferido.»
(Da História do BC96)
in Guerra Colonial - Aniceto Afonso, Matos Gomes
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